O país das domésticas, por José Geraldo Couto
Doméstica, documentário de Gabriel Mascaro, é a concretização de um projeto aparentemente simples: registrar a vida cotidiana de empregadas domésticas pelo Brasil afora. O que o torna original e problemático – no sentido positivo da palavra, de suscitar problemas – é o seu “dispositivo” ou modo de produção: a câmera é confiada a sete adolescentes de diferentes cidades, cada um deles com a tarefa de documentar suas próprias empregadas.
Resulta disso um filme heterogêneo, irregular, mas de uma riqueza ímpar naquilo que revela da formação da sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, da imensa pluralidade de experiências humanas possíveis dentro dessa sociedade. Vemos na tela histórias muito diversas, ainda que algumas matrizes se repitam e um quebra-cabeças se forme aos poucos sem que haja a intervenção de uma narração explicativa ou unificadora.
Algumas conexões subterrâneas entre essas trajetórias são evidentes. Por exemplo: em pelo menos dois casos as domésticas retratadas são tidas como “pessoas da família” por terem sido criadas na roça com suas patroas, pois suas próprias mães e avós eram serviçais dos antepassados dos patrões. Seria possível traçar retrospectivamente essas árvores genealógicas até a época da escravidão. (continua) Fonte: IMS
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